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Shissou Nikki

Enquanto em Portugal a edição de manga é quase inexistente, no país vizinho o mercado floresce a olhos visto e já existem editoras empenhadas, como é o caso da Ponent Mon a procurarem “novos” autores ou obras mais alternativas no panorama da banda desenhada japonesa e que gozam de uma qualidade indiscutível.


Um desses títulos é Shissou Nikki (Diário de um desaparecimento, em português) de Hideo Azuma vencedor do Prémio Ozamu Tezuka no ano seguinte à sua publicação no Japão em 2005 e que imediatamente teve imenso sucesso, isto porque Azuma já era um nome conhecido por trabalhos anteriores como por exemplo “Olympus no Polon” que pouco tempo depois veio a ter uma versão animada.

O livro conta as duas grandes fases que o artista passou, a primeira delas deixando tudo para trás e começar a viver tal qual um mendigo nas ruas de Tóquio. Procurava nos caixotes do lixo comida, bebida e agasalhos de forma a passar os seus dias com algum conforto se é que isso existia para ele, sabendo que era uma pessoa que estava acostumado a ter uma vida cómoda.

Desde as suas vivências como vagabundo para tentar escapar à sua agoniante rotina de mangaka (nome dado aos artistas que desenham manga) devido às pressões dos prazos de entrega e dos controlos de conteúdos por parte das editoras até à fase alcoólica, Azuma mostra-nos neste manga autobiográfico como foram as diversas fases da sua vida, sem que com isso o autor tenha uma intenção moralizadora ou que procure a compaixão dos leitores.


A segunda fase conta a sua vida aquando da sua passagem pela Nihon Gas, uma empresa de montagem de sistemas de gás. Trabalho este que apareceu de forma casual e movido pelas circunstâncias do dia-a-dia, mas que com o tempo ganha algum interesse na sua “arte”.

As suas outras vivências, como mangaka por um lado e alcoolico por outro, não são menos interessantes pelo contrário, servem perfeitamente para entendermos os motivos que levaram Azuma a querer escapar da sua vida diária, assim como para vermos a grande capacidade dele para se caracterizar de forma objectiva, sejam eles defeitos ou virtudes.

Apesar da forma crua como são descritas todas as situações, o estilo caricatural ajuda a que o leitor aliviar a leitura e movê-lo para uma profunda reflexão. É uma obra catartica, e como tal, é muito fácil que nos chegue ao mais profundo.

O traço arredondado de Hideo Azuma, ao mais puro estilo de Tezuka, proporciona desde logo uma visão cómica de uma série de histórias mais sérias, mas contadas de um ponto de vista nostálgico, pouco dramático e com uma comicidade nada forçada.


Shissou Nikki é um “gekiga seinen” (manga em formato novela gráfica para um público mais adulto) por isso poderá afastar os fãs de manga que procuram títulos mais populares, mas devem dar uma oportunidade para ver e conhecer o outro lado dos protagonistas que vivem nesta indústria que não é tão cor-de-rosa como parece.

Autor: Fernando Ferreira

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