Quando se fala de filmes sobre Yakuza, Takeshi Kitano é um dos nomes de referência no cinema japonês. Com obras como Sonatine (ソナチネ), Hana-Bi (はなび), Brother ou Outrage アウトレイジ), Takeshi Kitano tem alguns dos seus melhores filmes dentro desta temática. Neste Ryûzô to 7 nin no kobun tachi (龍三と七人の子分たち) que foi lançado em 2015, Kitano volta a inspirar-se no mundo dos Yakuza, embora desta vez a abordagem a este tema seja bastante diferente da utilizada nas obras referidas anteriormente.
A história do filme anda à volta de Ryuzo (Tatsuya Fuji, cujo papel mais conhecido da sua carreira será provavelmente em Ai no Korīda de Nagisa Ōshima), um Yakuza reformado cuja vida atual é bastante enfadonha. Ryuzo vive em conjunto com o filho e a família deste, que o desprezam devido ao seu passado, passando a maior parte dos dias a vaguear pela cidade, encontrando-se pontualmente com o seu velho companheiro Masa (interpretado por Masaomi Kondō), com o qual recorda saudosamente os tempos onde dominavam as ruas de Tóquio.
Quando um dia Ryuzo é quase apanhado numa burla levada a cabo por uma associação denominada Keihin Rengo (que não se intitulam como Yakuza, mas cuja forma de operar é bastante similar à destes), o reformado yakuza decide voltar a juntar o seu antigo gangue com o objetivo de fazer frente a este novo grupo mafioso que se tem apoderado da zona onde habita. Nostálgicos dos velhos tempos e ainda com coragem e motivação que baste para enfrentar um grupo de rufias mais jovens, este grupo de septuagenários composto por Ryuzo (o Oyabun), Masa (o braço direito do chefe e seu leal companheiro há bastantes anos), Mokichi (o assassino da casa de banho), Mac (que emula Steve McQueen em todos os momentos da sua vida), Hide (que se especializou em usar pregos para matar pessoas), Taka (letal com uma navalha), Ichizo (o homem da bengala-espada) e Yasu (o Kamizake, que na realidade é filho de um) irão tentar subjugar os seus adversários e espalhar o terror novamente pelas ruas de Tóquio.
O filme tem uma premissa que pode fazer relembrar Shichinin no Samurai (七人の侍) de Akira Kurosawa ou Brother (este também realizado por Kitano), mas a execução é bastante diferente, sendo Ryûzô to 7 nin no kobun tachi uma sátira completa ao mundo dos Yakuza e mafiosos em geral, numa obra que transforma todos os seus personagens em caricaturas de si próprios, não tendo receio de os ridicularizar o máximo possível. Afastando-se da seriedade e comédia negra vista em filmes como Brother ou Sonatine, Kitano tem nesta obra uma abordagem à temática dos Yakuza feita de uma maneira mais relaxada, procurando fazer humor com os lugares comuns normalmente vistos nas obras sobre a máfia Japonesa.
No filme, este velho grupo de Yakuzas reformados continuam a viver num mundo completamente desfasado da realidade, recusando-se a admitir que a sociedade atual japonesa não nutre qualquer respeito por eles, causando mais embaraço aos que lhes são mais próximos do que propriamente receio do que as suas ações possam causar. Do outro lado da barricada temos um grupo mafioso sem qualquer código de honra e cuja forma de atuar assenta em atitudes covardes, baseando-se a maior parte da sua atividade na burla a idosos ou outros elementos sem grandes meios económicos da sociedade japonesa, sendo facilmente intimidados por um grupo de “velhotes” que nem sabe bem o que anda a fazer.
Ryûzô to 7 nin no kobun tachi está longe de ser uma das melhores obras de Takeshi Kitano, mas mesmo assim é um filme que entretém durante as quase duas horas do mesmo. Quem espera uma obra com forte componente emocional poderá sair desiludido após a visualização do mesmo. Este filme de Takeshi Kitano é mais um acumular de sketches cómicos sobre a máfia japonesa (com um ênfase um pouco exagerado em piadas sobre flatulência) do que propriamente um estudo tocante sobre as consequências de uma vida de crime.
Ryûzô to 7 nin no kobun tachi é quase uma sátira em si à carreira do realizador, que ao longo dos anos tem intercalado entre filmes dramáticos sobre a máfia japonesa e a condição humana e obras de comédia absurda sem grande estrutura narrativa.
Escrito por: Nuno Rocha