Enquanto o tão esperado Castlevania para a PlayStation 2 da Sony não sai, a Konami vai-nos presenteando com fabulosas entregas desta não menos fabulosa série na consola portátil da Nintendo, o Game Boy Advance.
Mais uma vez, à semelhança do seu antecessor, Castlevania – Concerto Of The Midnight Sun/Harmony Of Dissonance, a versão japonesa porta o título da série na sua versão americana, Castlevania, ao invês de Akumajou Dracula. Esta entrega responde pelo nome de Castlevania – Akatsuki no Minuet (Minuete da Lua da Madrugada) no Japão, embora, na Europa e nos EUA, como já é hábito, o nome seja outro: Castlevania – Aria Of Sorrow (Ária da Tristeza).
Não sei de quem parte esta decisão de constantemente mudar os nomes às traduções, talvez da equipa de tradução, talvez da Konami Ocidental… faria mais sentido se fosse da própria Konami, como me sinto inclinado a acreditar. O que foi posto em jogo e cortou, como nós, jogadores ocidentais, já estamos habituados, foi parte da beleza que é inerente ao jogo: um minuete é uma peça de música de três andamentos, à semelhança da valsa. Parece ser irrelevante? Não é, este jogo é o terceiro Castlevania no GBA! São pequenos detalhes como este que engrandecem uma grande obra e que, muitas vezes, a maioria dos ocidentais não lhes conseguem achar fundamento.
Mas passando ao jogo concretamente dito, o que me veio cair às mãos é mais um sucessor do soberbo Akumajou Dracula X – Gekka no Yasoukyoku (conhecido no Ocidente por Castlevania – Symphony Of The Night), o fantástico clássico da PlayStation. Tal como os seus dois antecessores, Circle Of The Moon e Concerto Of The Midnight Sun, Akatsuki no Minuet não faz frente à lenda que é a colossal besta Yasoukyoku, mas não cai muito longe…
GRÁFICOS
Começando pelos gráficos… Minuet brilha como uma estrela neste apartado: a Konami tem vindo a desenvolver as suas capacidades técnicas no GBA com todos os seus lançamentos e Minuet, embora inferior tecnicamente a nível de gráficos em relação a Concerto Of The Midnight Sun, faz muito melhor uso destes. Explicando…
Circle Of The Moon era fantástico graficamente, usava gráficos de monstros redesenhados especificamente para o GBA, sprites que não eram muito pesados e que permitiam uma música espectacular como a que Circle teve; por seu lado, Concerto Of The Midnight Sun, numa tentativa de se aproximar mais de Yasoukyoku, recuperou vários sprites desse jogo. Como é óbvio, nem um cartucho de GBA tem as capacidades de um CD da PS, nem um GBA se pode equiparar a uma PS. O resultado foram gráficos muito perfeitinhos e que superavam claramente os de Circle Of The Moon, mas pouco espaço para música de categoria, e mesmo que houvesse espaço, a capacidade de processamento do GBA já estava practicamente toda “comida” pelos gráficos. O caso de Minuet é bastante diferente, e prova que a Konami aprende depressa: os gráficos são em grande parte, especialmente os dos cenários, retirados ou inspirados por entregas anteriores da série, principalmente Concerto e Yasoukyoku, embora haja alguns retirados de Circle Of The Moon e uma boa quantidade de gráficos novos.
Os sprites das personagens vão colher inspiração directa a Gekka no Yasoukyoku, inclusive os sprites do personagem principal, Soma, são completamente decalcados dos sprites de Alucard, o protagonista de Yasoukyoku. Não é grave, a semelhança não é muita, e a Konami já havia feito o mesmo em Concerto, sendo os gráficos de Juste, o protagonista, outro decalque dos de Alucard. No entanto, é muito mais evidente neste, pois Soma movimenta-se da mesma maneira “única” que Alucard se movimentava.
A arte dos personagens, que são muitos, como mais à frente desenvolverei, também está soberba, sendo mais uma vez produto da mão habilidosa de Ayami Kojima, à semelhança de Yasoukyoku e Concerto.
Quanto aos gráficos dos inimigos, a Konami fez uma jogada esperta: pondo grande parte do processamento gráfico assente nos soberbos fundos, se fizesse o mesmo com os sprites dos inimigos automaticamente condenava-se a repetir o mesmo erro que cometera em Concerto Of The Midnight Sun, ficando com uns gráficos soberbos, mas uma música muito fraca. Felizmente, não foi isto que aconteceu: a Konami foi buscar os sprites dos inimigos a Concerto Of The Midnight Sun, produzindo um jogo sumptuoso graficamente, como convém aos Castlevania, mas simplificou os sprites deixando-os num nível de qualidade algo superior à de Circle Of The Moon mas ligeiramente inferior à de Concerto. Grande parte dos inimigos são novos no entanto, portanto só uma minoria de gráficos é que foram “inspirados”.
Outra coisa que também ajuda a “aligeirar” o peso gráfico é o facto de que neste jogo nunca aparecem no ecrã (excepto em situações não evitáveis) mais de 3 inimigos. Embora ajude a fazer o jogo fluir melhor, torna-se um claro handicap em várias situações, das quais destaco o combate contra o Legião, que sofre directamente os efeitos disto.
MÚSICA
Com Akatsuki no Minuet, a Konami volta à carga com a música de qualidade, uma das imagens de marca da série Castlevania. Como é óbvio, a compositora escolhida foi novamente Michiru Yamane, compositora das fantásticas OST’s de Vampire Killer, Gekka no Yasoukyoku e muitas outras músicas na série Castlevania. Infelizmente, a OST não ultrapassa a de Circle Of The Moon, e os motivos são vários…
O primeiro deles, e o mais óbvio, é a ausência de músicas “clássicas”: nem a “Vampire Killer”, nem a “Chi no Namida”, nem a “Beginning” nem a “Simon” fazem a sua aparência neste jogo o que, para um fã de Castlevania, é uma facada no coração. As únicas músicas “clássicas” que fazem a sua aparição neste jogo são a “Heart Of Fire”, de “Akumajou Dracula” da NES e a “Battle Of The Holy” de “Dracula Densetsu” do GB, aceleradas, misturadas com outros ritmos e mixadas numa única música que porta o nome “Heart Of Fire. Escolhas bastante bizarras, no meio de tantas possíveis, pois não sendo más músicas, bem pelo contrário, não são tão clássicas que mereçam aparecer em detrimento de outras…
O segundo motivo é mais forte… Michiru Yamane é conhecida por ter fases altamente inspiradas (tais como em Gekka no Yasoukyoku) e outras, como dizer… MUITO menos inspiradas… Felizmente, a sua má fase (que começou desde o final de Gekka no Yasoukyoku) está a passar, pois embora o material que tem composto até agora tenha sido mau, já se nota uns laivos de originalidade nesta OST. Apesar de tudo, a originalidade aqui presente não é de se lhe “tirar o chapéu”, nada que ultrapasse o normal esperado para a série Castlevania, embora hajam algumas músicas superiores à média, como a “Clock Tower”.
Por fim o terceiro motivo é mais inocente. Embora a qualidade de som da música esteja muito acima da OST de Concerto, Minuet não se aproxima de Circle Of The Moon. A qualidade é ligeiramente inferior: enquanto a de Circle Of The Moon se equiparava à de um jogo da SNES de alta qualidade e a de Concerto Of The Midnight Sun se assemelhasse bastante à de um jogo NES, a qualidade de som da música neste jogo está mais ou menos no meio dos dois, ou seja, ao nível da maioria dos jogos SNES. Uma novidade bastante benvinda aqui é a digitalização de vozes, que embora não sejam diálogos inteiros, apenas palavras aqui e acolá, marcam bastante a diferença, sendo em quantidades bastante consideráveis.
JOGABILIDADE
Como também já vem a ser hábito, a Konami aprendeu que apresentar-nos um sistema de magias diferente a cada entrega da série é já uma “regra do livro” desde Gekka no Yasoukyoku. E neste jogo não desaponta: o sistema de magia colhe muita inspiração de Circle Of The Moon, mas é-lhe muito superior. Antes de mais, o sistema de combate é herdado de Gekka no Yasoukyoku: Soma tem, à semelhança de Alucard, um inventário dominado exclusivamente por espadas do mais comum que há, sendo muitas espadas inclusive, retiradas desse jogo. Há no entanto uma quantidade nada desapreciável de “bizarrices”, tais como já acontecia em Yasoukyoku, entre as quais se contam a foice da Morte (essa mesmo), uma espada-chicote, espadas gigantes, martelos, machados, lanças (desde lanças normais a lanças usadas por cavaleiros), tridentes, luvas e, o mais incrível de tudo, pistolas (!!). Apesar de tudo, a quantidade de armas não rivaliza nem de perto com a de Yasoukyoku, o que é uma pena.
Além da arma, Soma pode ainda andar com uma armadura e uma relíquia equipados, que pouco mais fazem que melhorar os seus valores de status. Quanto ao resto dos itens é as típicas poções e refeições. Existe em acréscimo a isto, um sistema de dinheiro e uma loja, tal como em Yasoukyoku e Concerto.
Quanto aos movimentos, eles são basicamente os mesmos que em Yasoukyoku, embora seja preciso apanhar “almas” (do sistema de almas já falarei) que estão colocadas em pontos estratégicos na progressão do jogo, e que funcionam como os itens raros de Yasoukyoku ou os itens mágicos de Circle Of The Moon. Enquanto estas “almas especiais” não forem apanhadas, há habilidades que não são acessíveis, nomeadamente o esquivar, os slides, os saltos duplos, os pontapés aéreos, os super-saltos e capacidade de não ser afectado pela paragem do tempo.
O sistema de magia desta vez é constituído pelo sistema de almas que já referi e que, devo confessar, é algo complicado a início. Este sistema descende directamente do sistema de Circle Of The Moon: Soma tem a capacidade de absorver almas, capacidade única que se pode manifestar de 2 maneiras: ou tem a sorte de encontrar um candelabro com almas, que são candelabros espalhados pelo jogo e contêm almas importantes para o desenrolar do jogo, tal como a que dá a habilidade do salto duplo, por exemplo, ou então Soma tem de contar com os seus pontos de sorte e esperar que quando mata um inimigo tenha a sorte de que este liberte uma alma. Existem quatro tipos de almas. As primeiras são as cinzentas, as mais raras, que contêm habilidades, tal como por exemplo o Grave Keeper, que permite a Soma esquivar-se (para trás), carregando no botão L, ou Galamoth, que permite a Soma mover-se em espaços com o tempo parado.
O segundo tipo de almas são as vermelhas, que são as substitutas dos itens dos Belmondo. Estas activam-se fazendo a clássica combinação cima + ataque. Há de todo o tipo imaginável de almas vermelhas desde as que atacam com lasers (Legion), três bolas de fogo à Drácula (Flame Demon), lanças (Spear Skeleton), redes (Arachne) e até mesmo animais como corvos (Blue Raven) ou gatos (Student Witch) e muitas outras, mas para não estragar a surpresa é melhor não falar delas. Dos itens dos Belmondo só quatro estão presentes, nomeadamente o machado (Axe Armor), as facas (Evil Butcher), o relógio (Chronomage) e os raios (Lightning Doll) mas existem tantos outros tipos de ataque que facilmente esquecemos as ausências. O terceiro tipo de almas são as azuis. Estas são activadas carregando no botão R e incluem alguns efeitos engraçados. O meu destaque principal vai para a alma do Giant Bat, que permite a Soma transformar-se num morcego (tal como Alucard em Yasoukyoku), mas existem outras habilidades bastante úteis tais como transformar-se num monstro gigante (Curly), planar (Flying Armor), correr e fazer uma onda de choque (Black Panther), absorver HP (Persephone), invocar um familiar como em Yasoukyoku (Imp) e até fazer aparecer foices voadoras (Death). Por fim estão as almas amarelas. Estas são na sua grande maioria aumentadoras de valores de status, como o Gremlin que dá mais 8 pontos de sorte. Além destas, existem algumas almas amarelas com efeitos realmente interessantes, como absorver HP quando Soma ataca qualquer coisa (Succubus) ou ver paredes que podem ser partidas (Peeping Eye), ou até andar debaixo ou sobre água (Skula e Undine, respectivamente).
Soma funciona num sistema de níveis, bem ao velho estilo RPG, tal como Alucard em Yasoukyoku, Nathan em Circle e Juste em Concerto. À medida que vai matando inimigos ganha experiência e por acumulação de experiência ganha níveis, o que por sua vez se traduz em aumentos de valores de status como força, HP, MP, etc. Também devo referir que o MP tem aqui um destaque muito maior que em qualquer Castlevania anterior: nunca me senti tanta vez “apertado” com falta de MP, pois tanto o uso de almas vermelhas como azuis consome MP, e o MP neste jogo, mesmo nos níveis mais altos, esgota-se muito depressa. Os corações aqui já não são acumulados para o uso dos itens dos Belmondo mas sim como MP, embora não se ganhe muito MP apanhando-os.
O sistema de jogo altera-se com uma segunda personagem, secreta, Julius, que está para Minuet tal como Richter estava para Yasoukyoku. É um típico Belmondo: usa o clássico chicote da família Belmondo, o Vampire Killer, que não se compara em nada às armas finais de Soma (tira muito pouca energia), embora possa ser girado, ao estilo de Richter em Yasoukyoku e Juste em Concerto (ou até mesmo Simon em Akumajou Dracula da SNES). Julius não ganha níveis nem experiência, nem muito menos absorve almas, nem pode usar equipamento ou itens, mas em compensação inicia o jogo com uma quantidade de HP bastante apreciável e com todas as habilidades que Soma apanha durante o jogo (tais como o super-salto, por exemplo). As únicas diferenças é que fica invencível quando se esquiva e tal como Richter o seu super-salto é um uppercut, e claro, carrega os itens clássicos da família Belmondo, que podem ser alternados entre si carregando no botão R. De notar que estes itens não são fisícos como nos jogos anteriores, é tudo manifestação de magia e como tal “queima” MP. Os itens presentes aqui são o machado, o crucifixo, a água benta e o clássico “item crash” do crucifixo, a invocação da cruz, que aqui aparece como um item individual.
O jogo com Julius é extremamente difícil, pois como já disse, tira pouca energia, é uma complicação para recuperar o HP que perde e mesmo o item mais poderoso (a invocação da cruz) causa pouco dano aos inimigos mais poderosos. O desequilibrio de poder que existia em Richter em Gekka no Yasoukyoku (em que bastava fazer o item crash da água benta, a Hydrostorm, para “limpar” qualquer boss, excepto Galamoth) foi portanto corrigido neste jogo.
Quanto a inimigos, estão presentes os clássicos esqueletos, morcegos, zombies (redesenhados duma forma muito mais realista), mermen, axe armors (com sprites redesenhados), peeping eyes, pilares de ossos, corvos, dragões brancos, harpias, minotauros, homens-pulga, dançarinos (vindos do Akumajou Dracula da SNES), lobisomens, cabeças de Medusa, ectoplasmas, ervas e as águias “bombardeadoras” de Akumajou Densetsu, as altair (que, só a título de curiosidade, é o nome da estrela principal da constelação da Águia).
Também presentes estão inimigos mais recentes, como as armaduras gigantes de Concerto e as disc armor (também elas com sprites redesenhados duma forma bastante mais “feia”, na minha opinião), as caveiras gigantes, os slimes, as bonecas, os imps e as bruxas de Gekka no Yasoukyoku.
Existe também, como é óbvio, uma grande quantidade de inimigos novos, entre os quais tenho que destacar as valquírias, que apresentam uma parecença mais que suspeita para com Lenneth, a protagonista de “Valkyrie Profile”, o famoso RPG baseado na mitologia nórdica da Enix. Os outros são os típicos esqueletos com armaduras, golems e por aí fora, sem esquecer as clássicas variações das palettes de cor, que se manifestam na forma de inimigos com nomes diferentes e mais HP e força.
Os bosses também marcam presença, mas devo confessar uma grande desilusão neste ponto. Os bosses são na sua grande maioria monstros comuns que se enfrentam em alturas posteriores do jogo. Bosses realmente bosses, só são 7, dois deles fazendo a sua estreia neste jogo, dos quais destaco o gigante, um dos bosses mais incríveis que já tive a honra de enfrentar em Castlevania, enquanto que os outros 5 são a Morte, o Legião (que neste jogo está bastante mau), Julius, Graham e o boss final, o Caos. Alguns combates, como a Morte, o gigante, Julius e o Caos são realmente épicos, mas a falta do morcego gigante, da Medusa, do monstro de Frankenstein e da múmia faz-se sentir com muita força aqui…
Em compensação às várias pequenas falhas, a duração deste jogo é bastante considerável, mas infelizmente não existe castelo invertido em Akatsuki no Minuet, outra grande falha, a meu ver. A nível de história no entanto, faz todo o sentido, já que teoricamente o castelo em que se desenrola o jogo é o verdadeiro castelo de Drácula, e portanto o invertido. Uma coisa em que Minuet supera qualquer antecessor é no tamanho do castelo: embora não haja castelo invertido como já disse, e muitas áreas sejam “estranhamente” parecidas (que de estranho não tem nada, é uma mera poupança de texturas), o castelo de Minuet é bastante maior que qualquer castelo anterior.
Este castelo é composto pela entrada (muito semelhante à entrada do castelo de Yasoukyoku), um salão de dança e um dormitório (que retiram inspiração de Concerto, Akumajou Dracula XX e o Akumajou Dracula da SNES, embora hajam zonas muito parecidas com áreas de Circle Of The Moon), um andar superior (ao estilo de algumas áreas de Yasoukyoku), uma capela (da qual não sei onde foram buscar a inspiração, embora me sinta inclinado para Concerto), os Jardins Flutuantes (obviamente baseados nos Jardins de Yasoukyoku), a Arena (que basicamente é o Coliseu de Yasoukyoku redesenhado a partir de zero com outro nome), os quartos de estudo (a Biblioteca de Yasoukyoku redesenhada com outro nome) e o Reservatório Subterrâneo ligado com o Cemitério Subterrâneo que por sua vez se liga à Área Proibida (três áreas que misturam inspiração das Catacumbas de Yasoukyoku com os níveis aquáticos de Circle Of The Moon e Concerto Of The Midnight Sun). Há portanto, como é compreensível, um “dejá vu” à volta do jogo, com tantas inspirações.
Mas a longevidade perdoa muita coisa, e Minuet tem muita longevidade: além de completar o jogo uma vez (que já de si é grande), existe o jogo com Julius, o modo difícil (com itens novos), a busca por todas as almas, acabar o jogo com 100%, os três finais diferentes com Soma e o modo Boss Rush (uma adição bastante engraçada em Concerto Of The Midnight Sun que aqui volta a aparecer e a brilhar). É verdade que são apenas “remixes” de coisas que aparecem na primeira vez que jogamos mas, não obstante, garanto que a duração e entretenimento estão assegurados.
HISTÓRIA (contém spoilers)
Em termos cronológicos, se Akatsuki no Minuet não for a conclusão da série Castlevania, é dos últimos episódios. O jogo desenrola-se em 2035, e a personagem principal é Soma Cruz, aluno de liceu em intercâmbio no Japão. No início do jogo, Soma dirige-se para o templo da sua amiga Mina Hakuba para verem juntos o eclipse solar, enquanto é perseguido, sem o notar, por um morcego. No entanto, quando chega ao topo das escadas do templo desmaia num clarão e acorda num local diferente, com a sua amiga Mina ao lado e um estranho homem de negócios de cabelos negros compridos que se apresenta como Gen-Ya Arikado. Arikado diz-lhe que está no castelo de Drácula, e de repente são atacados por monstros que são prontamente destruídos por Arikado, mas um foge e ataca Mina. Soma defende Mina e absorve a alma do monstro, Arikado diz-lhe então que este deve procurar uma saída do castelo, e descobrir a verdade sobre o seu poder acabado de descobrir: absorver almas.
Ao longo do jogo, fica mais que claro (apesar de nunca o ser dito directamente) que Arikado é na verdade Alucard, que aparentemente quebrou a sua promessa de dormir eternamente que fez em Gekka no Yasoukyoku para livrar o mundo dos vampiros (como já havia feito e quebrado em Dark Night Prelude/Castlevania Legends e Akumajou Densetsu/Castlevania III), pintou o cabelo de preto e vestiu um fato de homem de negócios. Outras personagens vão surgindo, como Yoko Belnades, descendente de Sypha Belnades, Graham Jones, um missionário da Igreja, Hammer, o soldado americano que numa investigação a umas ruínas acordou dentro do castelo, acabando por abrir uma loja de itens e Julius Belmondo.
São dadas bastantes pistas sobre o que realmente aconteceu antes de Akatsuki no Minuet, pelas personagens. Como havia sido previsto na grande profecia de Nostradamus, Drácula voltou a despertar no ano de 1999 durante o eclipse solar. Aparentemente, Alucard também despertou por volta desta altura. Tal como já havia acontecido na Idade Média, mais concretamente antes de Akumajou Densetsu, as nações do mundo enviaram os seus exércitos para destruir o conde, mas tudo o que aconteceu foi uma chacina. O destino do mundo encontrava-se então nas mãos do descendente da família Belmondo, neste caso, Julius Belmondo, que auxiliado por Alucard e outros tantos matou finalmente Drácula e selou o castelo (eis o motivo pelo qual os caixões de Yasoukyoku, os pontos de gravação, aparecem aqui destruídos com uma estátua da Virgem Maria por cima) graças a padres do templo Hakuba, no Sol. Julius deixou o legado da família Belmondo, o chicote Vampire Killer, escondido no castelo e Alucard tentou levar uma vida normal, entre humanos, mas sempre visitando o templo Hakuba, pois sabia que Drácula, apesar de morto, ainda não tinha sido destruído. E foi assim que aconteceu no ano de 2035, quando o castelo de Drácula ressuscitou, no meio do eclipse, arrastando Soma e Mina para dentro dele.
Soma, na sua demanda pelo castelo, encontra Julius, sem memória do seu passado, lembrando-se apenas que está ligado ao castelo, de alguma forma. Pelo caminho, encontra a Morte também, que aparentemente já não é deste mundo (se é que alguma vez foi), pois quando o combate se inicia, é apenas um espectro, que comanda à sua foice atacar Soma. No entanto, quando Soma destrói a foice, a Morte materializa-se e aparece com uma foice dupla gigante! No final do combate, a Morte volta para a sua dimensão.
Perto do momento final, Julius recupera a memória e procura o seu chicote, para destruir Graham, que se apresenta como a ressurreição de Drácula, e tudo leva a crer que o é, pois apesar de possuir os mesmos poderes que Drácula, nasceu no exacto momento que Drácula morreu. Mas no momento em que é destruído, tudo é revelado, no climax do jogo: Alucard aparece e diz a Soma que Drácula ressuscitou no seu corpo (aparentemente sabia-o desde o início!), e a única maneira do destruir é destruir a criatura do caos que é o castelo. Soma parte para o épico confronto final com as trevas do castelo, numa outra dimensão, mas antes disso Julius aparece e enfrenta-o, num dos combates mais fantásticos do jogo.
TRADUÇÃO
A tradução, na sua grande generalidade, não está muito má. É louvável o facto de não terem dobrado as vozes originais japonesas para inglês, mas não é louvável continuarem a manter erros que já são practicamente da casa como mudarem o nome do jogo ou chamarem Belmont a Belmondo. Também alguém devia dizer aos tradutores que a pronúncia de Gen-Ya é diferente de Genya… Estes erros no entanto não são tão graves nem irritantes como alguns que vão aparecendo pelo jogo. Refiro-me mais concretamente aos nomes dos monstros e dos itens.
Nos monstros há que destacar o “Quezlcoatl”, derivação bastante “interessante” de “Quetzalcoatl” e os demónios com nomes inspirados na “Divina Comédia”, de Dante. Pergunto-me que raio de tradutor exerce a sua profissão sem um mínimo de cultura geral, principalmente quando é referente a uma das maiores obras literárias do mundo. Quem é que, conhecendo a Divina Comédia, traduziria “Scarmiglione” (Sukaamirion) como “Skull Millione”? Ou “Rubicante” (Rubikanto) como Lubicant? Mas se estes erros parecem insignificantes, e estes são apenas os mais evidentes, então que dizer das traduções dos itens? Como é possível traduzir “Thor Hammer” por “Tallhammer”? E “Partisan”? Será que nem inglês estes tradutores sabem, para traduzirem a dita arma por “Partizan”? Não menos engraçada é a tradução da lança de Longinos, a famosa lança que trespassou o corpo de Jesus crucificado, a “Longinos’ Spear”, traduzida por “Ronginus’ Spear” ou a lança de guerra de Odin, a famosa lança “Gungnir”, traduzida aqui por “Gungner” e mais umas quantas traduções semelhantes…
Tradutores que claramente têm uma grande falta de cultura geral…
GERAL
Akatsuki no Minuet é um jogo que não desaponta. A nível de gráficos não supera Concerto Of The Midnight Sun e a nível de música não supera Circle Of The Moon, mas na combinação dos dois apartados consegue superar (ainda que apenas ligeiramente) esses dois jogos.
A jogabilidade é muito interessante e tanto o sistema de magias como de combate são bastante interessantes, mas sei que a Konami consegue fazer muito melhor. Limitações do sistema? Talvez. O sistema de MP devia ter levado uma revisão geral antes do jogo ter sido lançado. Não que eu acredite em facilidades, mas a falta de MP pode tornar-se extremamente irritante. A possibilidade de só poder levar 9 itens de cada também não é muito agradável e não sou muito apologista, mas devo dizer que realmente eleva um pouco a dificuldade.
A duração deste jogo é um grande trunfo. Apesar do jogo se tornar muito dejá vu ao fim de 1 semana a jogá-lo o dia todo, principalmente devido às semelhanças das áreas no seu geral como para com jogos anteriores, devo dizer que ainda me diverti bastante (embora acredite que me podia divertir ainda mais), pois o castelo é bastante grande e os extras compensam largamente. O modo Boss Rush é, como já fora em Concerto Of The Midnight Sun, bastante divertido e o jogo com Julius é realmente desafiador, embora seja frustrante por vezes e os seus sprites sejam menos apelativos (leia-se: menos trabalhados) que os de Soma. No entanto, o sistema de mudança de itens em Julius é pouco natural e atrapalha o jogo, mas fora isso, no geral, é um extra que não é mal vindo. Um extra que certamente seria MUITO benvindo seria a possibilidade de jogar com Alucard, e é um pouco incompreensível o motivo pelo qual a Konami não o incluiu (isso, o castelo invertido, uma quantidade de itens mais, etc., etc.), mas não se pode pedir tudo…
A história está muito bem escrita e adiciona um grande atractivo ao jogo. Desde Gekka no Yasoukyoku que não via uma história tão forte na série Castlevania. Continuo a preferir a de Yasoukyoku mil vezes, mas devo dizer que estou impressionado com o que a Konami conseguiu fazer neste Castlevania, especialmente tendo em conta que, apesar de não parecer desenrolar-se no futuro, transmite esse ambiente perfeitamente. Talvez seja esse o motivo pelo qual não fiquei tão deslumbrado com este jogo como fiquei com Circle Of The Moon. O ambiente joga um papel muito importante nos Castlevania: a fusão de músicas épicas com um ambiente medieval em que o o jogador se identifica com o protagonista foram os principais trunfos dos dois Akumajou Dracula X e de Circle Of The Moon. Esse ambiente não está muito presente em Concerto Of The Midnight Sun e em Akatsuki no Minuet está completamente ausente.
Mas voltando à questão da história, não duvido que se a Konami fizesse algo na linha de Gekka no Yasoukyoku com a história que apresentou aqui para o ano de 1999 ultrapassasse “nas calmas” Yasoukyoku: o atractivo de Minuet é descobrir o passado de 1999, não os eventos que se passam em 2035, o que é irónico, no mínimo.
Apesar de todas as críticas que aqui apresentei (que admito que sejam algo exageradas), Akatsuki no Minuet é um grande jogo, bem na moda da série Castelavania. Infelizmente, vê-se um pouco diluída a fórmula que fez com que os Castlevania fossem os clássicos que são hoje em dia, e com a chegada em breve doutro Castlevania 3D, desta vez na PS2, devo dizer que receio pelo futuro da série, apesar de tudo o que a Konami possa dizer sobre não ir repetir o desastre de Akumajou Dracula Mokushiroku (Castlevania 64).
No entanto, como já disse, Minuet não desilude: pode ser visto como a terceira parte duma trilogia Castlevania sem relação entre si. Vale principalmente pelo tempo que dura e pela história interessante. Os que esperam encontrar aqui algo que supere Gekka no Yasoukyoku “tirem o cavalo da chuva”, pois ainda não é desta (embora já devesse ter sido há muito tempo, pois a Konami tem capacidade para fazer remakes dos fantásticos Castlevania mais antigos ou até mesmo para fazer uma continuação de Yasoukyoku, na PS2, não entendo é porque é que não faz nem uma coisa nem outra, pois as vendas compensariam certamente).
Akatsuki no Minuet encontra-se no mesmo nível de qualidade que Circle Of The Moon e Concerto Of The Midnight Sun, e se gostaste de qualquer um destes títulos, também vais adorar Akatsuki no Minuet. Um bom jogo, sem dúvida, digno de figurar na história Castlevania.
Escrito por: Luis dos Santos