Kengo Hanazawa (花沢健吾) atingiu recentemente uma maior notoriedade ao publicar “I Am a Hero” (アイアムアヒーロー), uma das melhoras obras sobre a temática zombie alguma vez feita em manga. Antes de se meter pelo mundo do terror, Kengo Hanazawa publicou “Boys on the Run” (ボーイズ・オン・ザ・ラン) um manga cuja história é completamente diferente, mas onde o protagonista continua a estar longe de ser o típico herói que estamos habituados a ver em mangas de acção ou desporto.
Tanishi é um jovem de 29 anos que trabalha numa empresa que produz brinquedos para gashapon (ガシャポン, máquinas de vending de cápsulas com brinquedos muito populares no Japão). Não sendo particularmente atraente, Tanishi vê-se a si mesmo como um falhado. Viciado em pornografia e evidenciando níveis de perversão elevados, Tanishi não é propriamente popular com o sexo oposto.
Apaixonado por uma colega de trabalho, Chiharu, tem dificuldades em transmitir os seus sentimentos a esta e acaba por se embaraçar em quase todas as interacções que tem com ela. Após ver a sua amada a ser conquistada e mesmo maltratada por um rival de uma empresa contrária, Tanishi decide começar a aprender boxe para poder enfrentar o seu rival.
Embora tenha um enredo que à primeira vista possa parecer normal, “Boys on the Run” está longe de seguir as convencções dos mangas de desporto e mesmo de romance. A primeira indicação para tal é que Tanishi nunca deixa de ser um falhado ao longo da obra, as coisas raramente lhe calham bem e quando calham vêm sempre com algum senão atrás.
O herói (ou melhor anti-herói) do manga é um personagem pouco apelativo. Não é fácil gostar de Tanishi, especialmente pelas acções que o mesmo tem ao longo da obra. Tanishi não é propriamente um herói, é um rapaz normal com baixa auto-estima que tenta aproveitar o melhor da sua vida miserável.
Se alguns mangas ganham pelo carisma dos personagens, “Boys on the Run” tem um ponto forte na falta de carisma e magnetismo destes. São poucos os personagens motivantes e por quem realmente torcemos na história. A maior parte dos personagens têm personalidades que balançam entre o angustiante e o repugnante, sendo provavelmente Hana (treinadora de boxe de Tanishi mais para a frente na história) uma das poucas personagens com que realmente se cria empatia na história.
Ao contrário da maior parte dos mangakas, Kengo Hanazawa não tenta nas suas obras criar super-heróis que nascem de circunstância anormais, mas sim tentar tirar o maior partido de personagens deprimentes e mais próximas da realidade, sem nunca aplicar nestas uma mudança completa de personalidade ao longo da obra.
O conteúdo deste manga é muitas vezes gráfico, tanto a nível de violência como a nível sexual, sendo uma obra mais direcionada para adultos. Além de abordar muitos temas relacionados com sexo (masturbação, sex-shops, prostituição, etc…), há também um nível elevado de nudez e cenas mais explícitas ao longo da obra. A nível de violência, as cenas de luta da obra não são em grande número, mas quando as há são bastante gráficas e normalmente sangrentas.
Com bastantes voltas inesperadas ao longo dos dez volumes da obra, “Boys on the Run” é um manga interessante, mas provavelmente será daquelas obras que ou se adora ou se odeia. Não é uma obra propriamente alegre, sendo em algumas partes angustiante para o leitor continuar a seguir a história do pobre protagonista da obra.
A arte da obra é excelente na minha opinião, mas sou um bocado suspeito porque gosto bastante do traço do autor e a atenção ao detalhe que o mesmo tem. Esta atenção ao detalhe faz com que as cenas mais violentas possam ser um pouco perturbantes em alguns momentos.
“Boys on the Run” conta com uma adaptação a filme (2010) e uma a dorama (2012), não tendo sido o manga (que a publicação data de 2005-2008) publicado no ocidente até ao momento. É recomendável para quem procura doses elevadas de humor negro e quer fugir um pouco da rotina das obras normais de romance. É um bom ponto de início para descobrir a obra de um mangaka cujo nome se está cada vez a destacar mais dentro do meio.
Escrito por: Nuno Rocha