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Aoi Bungaku

Recentemente a editora nacional Distrito Manga lançou uma adaptação em formato mangá do clássico livro de Osamu Dazai, No Longer Human e por esse motivo decidimos rever Aoi Bungaku, a série de 12 episódios lançada em 2009 e que tem os primeiros quatro episódios também inspirados no livro original escrito por Dazai.

A responsabilidade desta animação foi do aclamado estúdio Madhouse (Death Note, Hunter x Hunter ou Frieren: Beyond Journey’s End). Esta série é uma antologia que pretende homenagear, ao longo de doze episódios, alguns dos contos mais emblemáticos da literatura japonesa moderna. Assim sendo temos vários clássicos que foram adaptados para anime e a lista é a seguinte:

Episódios 1 a 4: Indigno de Ser Humano (Ningen Shikkaku), de Osamu Dazai.

Episódios 5 e 6: Na Floresta Sob as Flores de Cerejeira (Sakura no Mori no Mankai no Shita), de Ango Sakaguchi.

Episódios 7 e 8: Kokoro, de Natsume Soseki.

Episódios 9 e 10: Corre, Melos! (Hashire Melos), de Osamu Dazai.

Episódio 11: O Fio de Aranha (Kumo no Ito), de Ryūnosuke Akutagawa.

Episódio 12: Cena Infernal (Jigokuhen), de Ryūnosuke Akutagawa.

Esta série Aoi Bungaku é muito mais do que uma simples adaptação para anime. É uma verdadeira viagem ao interior da mente e do coração humanos. Encontramos aqui reflexões profundas sobre os abismos com que o ser humano se pode deparar. A série convida-nos a penetrar na loucura, na solidão, na necessidade de redenção e na mais sombria culpabilidade. E, se existe algo que une todas estas histórias, é a evidência de que o verdadeiro horror não nasce de monstros, mas sim da escuridão da mente humana.

A primeira das obras adaptadas, e uma das mais perturbadoras, é a famosa novela de Osamu Dazai. Esta história apresenta-nos um homem que vive escondido atrás de uma máscara que oculta o monstro dentro de si. Esta adaptação também é a mais longa da antologia e também a mais desconfortável de ver. É profundamente inquietante observar a queda livre e a destruição de um ser humano e, por consequência, de tudo aquilo que mais ama.

A segunda história que tem como título Na Floresta Sob as Flores de Cerejeira, é uma adaptação da obra de Ango Sakaguchi, onde acompanhamos a história de um homem do campo que se apaixona por uma mulher da cidade que o «obriga» a cometer crimes terríveis. Mas quem é mais culpado: o demónio que incita ou a mão que executa? E que cenário melhor do que a queda das flores de cerejeira para reflectir sobre a natureza da alma humana?

Na terceira história baseada no romance de Natsume Soseki, vamos conhecer diferentes pontos de vista de dois amigos tão distintos como a noite e o dia, ambos apaixonados pela mesma mulher. Esta história convida-nos a reflectir não só sobre o amor, mas também sobre a amizade, que é, afinal, outra forma de amor. Sobretudo, leva-nos a pensar nos perigos dos sentimentos reprimidos e na capacidade que têm de corromper até a alma mais pura.

Voltamos a mais uma adaptação do clássico de Osamu Dazai com este Corre, Melos! que é o mais próximo de um bálsamo para o coração que encontramos ao longo dos 12 episódios desta antologia. Aqui, acompanhamos a história de um escritor cujo passado começa a entrelaçar-se com a obra em que está a trabalhar. A história obriga-nos a encarar a fragilidade da lealdade e os caminhos possíveis quando alguém deposita a sua confiança em nós.

O penúltimo episódio inspirado no conto de Ryūnosuke Akutagawa, pode ser interpretado como uma fábula sobre a possibilidade de redenção de uma alma corrupta e malévola. O criminoso mais cruel e impiedoso do reino vê diante de si a oportunidade de escapar do inferno. Mas que decisão tomará um ego tão desmedido? Partilhará a redenção ou preferirá lançar-se ao abismo para não ajudar os outros? O estilo surrealista deste episódio destaca-se dos restantes da compilação.

E por fim, chegamos ao último episódio, que também é inspirado numa obra de Akutagawa, e conta-nos a história de um famoso pintor a quem o rei exige que represente a verdade do seu país na sua cripta funerária, esperando encontrar a mais pura beleza. O pintor, depois de testemunhar os terríveis crimes perpetrados pela «justiça» do rei, decide retratar na sua obra o lado mais obscuro e perturbador do reino. Será a obsessão pela arte capaz de pôr em risco a sua vida e a da sua filha? Poderá uma pintura captar o verdadeiro horror das chamas do inferno?

É também importante destacar a banda sonora de Aoi Bungaku. Foram dois músicos Hideki Taniuchi (nos episódios #1–8, 11–12) e Shusei Murai (nos episódios #9–10)) que criaram uma atmosfera musical espectacular e que dá à série um ambiente ainda mais introspectivo. Cada nota é uma carícia aos ouvidos, umas vezes são subtis, outras são violentas, como as próprias personagens que nos são apresentadas.

No geral, o tom da série oscila entre o poético e o sombrio. O design das personagens e a realização dos cinco directores que realizaram os episódios elevam essa sensação constante de decadência moral que envolve cada relato. É verdade que cada história mantém o seu próprio estilo, mas a Madhouse conseguiu criar uma unidade atmosférica entre todos os episódios, desconstruindo cada um dos seis relatos para revelar uma única ideia que os une: a tragédia que pode nascer quando nos deixamos conduzir pelos sentimentos mais obscuros.

Em suma, se querem uma série para verem ou reverem, experimentem estas adaptações de grandes clássicos da literatura japonesa em versão animada. E depois deixem por aqui as vossas opiniões.

Escrito por: Fernando Ferreira

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