Para comemorar o seu quinto aniversário a editora Sendai decidiu lançar mais um mangá de um autor que já fazia parte do seu catálogo. É um autor que gosto muito por isso era quase obrigatório ter que ler este de mangá antológico de apenas um volume escrito e ilustrado por Kenji Tsuruta (o mesmo autor de Emanon, série já publicada pela editora).

Foi inicialmente serializada nas revistas seinen Morning e Monthly Afternoon da Kodansha entre 1986 e 1994 e teve também direito a verões animadas. Em 1992, um OVA (Original Video Animation) de apenas um episódio, animado pela Ajia-do Animation Works e lançado pela Toshiba-EMI, intitulado Spirit of Wonder: Miss China’s Ring. Anos mais tarde foi produzido e lançado pela Bandai Visual entre 2001 e 2004 outro OVA de cinco episódios.
Espírito da Aventura (que na sua versão original tem o nome de Spirit Of Wonder), de Kenji Tsuruta, é um mangá que combina de forma magistral a beleza da exploração com o encanto do mistério e a delicadeza do quotidiano. O autor é conhecido pelo seu estilo de desenho refinado e atmosférico, e pelas narrativas que vão sempre além da simples aventura.
Este mangá é uma celebração da curiosidade humana, da contemplação e do prazer de descobrir o mundo. A protagonista — uma jovem aventureira, curiosa e independente — percorre cenários repletos de ruínas antigas, cidades à beira-mar e paisagens de sonho, sempre movida por um desejo genuíno de conhecer o desconhecido.

O ritmo da história é calmo, quase meditativo, o que pode surpreender leitores acostumados a histórias mais aceleradas. No entanto, é justamente essa cadência tranquila que permite apreciar os detalhes minuciosos da arte de Tsuruta. Cada página é uma obra de arte em si, com composições elegantes, jogos de luz e sombra e um cuidado extremo na representação de ambientes — sejam eles urbanos, naturais ou fantásticos. Toda a história tem um ambiente steampunk (ir a Marte num Zepplin, querem mais steampunk do que isto?) e lembra o trabalho de alguns artistas europeus e o estilo das animações do Studio Ghibli, transmitindo uma sensação constante de encanto e serenidade.
Em termos de narrativa, Espírito da Aventura é menos sobre acção e mais sobre atmosfera e sensações. O foco está na experiência da viagem, no fascínio por civilizações esquecidas e no vínculo entre pessoas e lugares. O autor usa o silêncio e os momentos de pausa para dar profundidade emocional à trama, criando uma leitura quase poética.

Falando da edição em si, o manga tem 404 páginas com algumas a cores e está uma edição bonita à semelhança dos mangás de Emanon. Algumas páginas tem uma impressão “estranha”, mas não interfere na leitura da história.
Em suma, o mangá é uma obra que fala sobre liberdade, curiosidade e a beleza das pequenas descobertas. Kenji Tsuruta convida o leitor a desacelerar e observar o mundo com olhos atentos — lembrando que a verdadeira aventura muitas vezes está em simplesmente continuar explorando.
Escrito por: Fernando Ferreira
