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Comic Party

Com a sua quota excessiva de dedicação, devoção, esforço e (pouca) glória, a comunidade de criadores de doujinshi (ou manga amador) parece ser o alvo perfeito para uma paródia. No Japão, legiões de ilustradores e argumentistas de fim-de-semana dedicam todo o seu tempo livre à criação de obras originais ou derivadas de outras mais conhecidas, alimentando assim os seus sonhos de fama e fortuna no seio da comunidade de leitores de manga.

O que não falta são locais e ocasiões para realizar a compra e venda das últimas obras amadoras, que em alguns casos, atingem um nível de qualidade excepcional. Alguns dos artistas conseguem mesmo ultrapassar a barreira da actividade amadora e entrar no mundo muito mais exigente dos desenhadores profissionais. Mas para a maioria, o doujinshi acaba por ser um simples hobby que permite um grau de aceitação, integração social e concretização pessoal.

É claro, algumas pessoas levam os seus hobbies longe demais.

“Comic Party” era, originalmente, um jogo hentai para PC, em que o jogador desempenhava o papel de um afincado criador de doujinshi, empenhado em completar a realização da sua próxima obra a tempo para a próxima convenção. Ao longo do caminho, encontra uma panóplia de raparigas envolvidas no processo de criação de manga – as quais terá, obviamente, de seduzir. O sucesso deste jogo no Japão justificou a criação desta série de anime de 13 episódios a qual, no entanto, deixou de lado os elementos hentai (mas mantendo muito do fan-service). Posteriormente, foram realizados mais 4 pequenos episódios especiais, e o jogo foi adaptado em versão censurada para a consola Sega Dreamcast.

Sendo Kazuki é um estudante com jeito para desenhar e poucas preocupações: a escola que ele frequenta garante-lhe o acesso a uma universidade local. Um dia, o seu amigo Taishi convence-o a ir a um mercado de manga amador… e assim, Kazuki mergulha de cabeça no mundo do doujinshi. Agora, ele tem algo com que se preocupar, nomeadamente com o prazo para acabar a sua primeira e fabulosa obra… mas conseguirá ele conciliar essa tarefa com a relação que tem com a sua amiga de infância Mizuki?

Esta premissa até se poderia dar a um desenvolvimento interessante, caso fosse bem explorada. Infelizmente, nem por sombras ela o é. “Comic Party”, ao longo dos seus 13 episódios, não apresenta mais do que uma série interminável de clichés semi-cómicos que nunca conseguem despertar grande interesse nem suscitar mais do que um leve sorriso nos lábios de que vê. A maior parte das situações parecem forçadas, e no que diz respeito ao humor, apenas as atitudes gloriosamente transbordantes de Taishi a tentar inspirar Kazuki são minimamente engraçadas.

E não é preciso ser grande génio para adivinhar a origem da inspiração para este anime, já que a esmagadora maioria das pessoas que Kazuki conhece na sua carreira pelo mundo do doujinshi são meninas do mais kawaii que existe.

Os designs dos personagens são minimamente apelativos mas demasiado padronizados, e extremamente prejudicados pela extrema falta de dinamismo da animação, que nitidamente se limitou ao mínimo para não ser visto como imagens estáticas. Nem mesmo a sequência de abertura se escapa – apesar de ter uma música convenientemente chamativa, a animação e realização é pouco mais do que medíocre.

No capítulo de vozes, “Comic Party” conta com o talento de Kikuchi Masami (Keiichi em “Aa! Megami-sama”, Tenchi em “Tenchi Muyo!”) como o aspirante a desenhador Kazuki, Touchika Kouichi como o megalomaníaco Taishi, Sayama Riko como a menosprezada Mizuki, Morota Kaoru como a experiente desenhadora Yuu e Ishikawa Shizuka como a sua irritante e arrogante rival Eimi. Mas nem todo o talento do mundo poderia salvar este anime da triste conclusão.

É verdade que alguém tem que ver as coisas más – quanto mais não seja para avisar os outros de que elas o são. Este crítico, sendo um optimista por natureza, gostaria que uma série com um conceito original como este não fosse má. Mas infelizmente, não é esse o caso.

“Comic Party” nunca consegue superar a mediocridade e o cliché óbvio, contendo muito do que se pode encontrar de mau em anime: animação foleira, humor forçado, fan-service de mau gosto, mau ritmo narrativo, tudo num mesmo pacote. Talvez os entusiastas do doujinshi se consigam identificar com as situações encontradas ao longo desta história. Para os outros, só se pode dizer que há muito melhor para se ver do que esta obra.

Autor:João Rocha

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