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A origem do Bishounen

Se não conheceres muito, ou nada, sobre o mundo da anime/manga, deves ignorar o termo Bishounen. “Bishounen” é a palavra japonesa para, literalmente, “rapaz bonito”; por outras palavras, um tipo que tem algumas (ou muitas) características femininas.

Se estiveres familiarizado com a anime/manga, sabes que esta espécie de personagem é extremamente comum nesta arte, sobretudo em criações do tipo shoujou.

Quantas vezes já olhas-te para um personagem de anime, e não conseguiste definir com exactidão o que se passava por trás das roupas? Se aprecias algum bishounen, quantas vezes já te zangaste com um amigo quando este te perguntou “quem é essa gaja”? Eu já me zanguei uma data de vezes! De facto, alguns personagens masculinos têm traços femininos, não influindo (pelo menos, em regra) esta parecença na preferência sexual dos ditos. E o número de fãs (esmagadoramente, do sexo feminino) de bishounen é quase astronómico. Podemos constatar isto fazendo uma pesquisa por sites alusivos ao assunto… Para entender este tipo de gosto tão dissimilado, fui analisar o exterior, o contexto, à procura de uma explicação.

Há algum tempo, eu pensava que esta propensão vinha do facto de, nos antigos teatros nipónicos, os papéis femininos serem representados por jovens rapazes parecidos com mulheres. Achava eu o seguinte: nos teatros populares japoneses, as mulheres não entravam nas peças(mais ao menos à semelhança do que acontecia na Grécia antiga); sendo assim, existiam homens actores que faziam os papéis femininos. Estes possuíam traços mais delicados, quase femininos. Curiosamente, parecia que os preferidos pelas espectadoras eram exactamente os que se vestiam de mulher. Esta preferência seria aceite ou tolerada pelos pais, que não levariam tão a sério esta enfatuação das filhas por actores, preferindo estes a homens reais. O comportamento dos pais teria provocado um efeito de reprodução social de um gosto que se propagaria até aos dias de hoje entra as jovens japonesas.

Mas alguns factos históricos fizeram-me largar este argumento. Para entender esta alteração de pensamento, é necessário conhecer um pouco mais a fundo os antecedentes de um dos géneros de teatro mais popular no Japão: o teatro Kabuki. Em 1629, o governo japonês tentou controlar esta manifestação pública de criatividade e liberdade, proibindo às mulheres a participação enquanto actrizes. Até 1652, estes papéis eram representados por rapazes bonitos, de feições femininas, mas nesse mesmo ano também esta situação foi proibida, e só os homens maduros podiam tomar os papéis de mulheres. Como tal, dificilmente a febre bishounen actual teria vindo de uma conjuntura que ocorreu apenas por 23 anos alguns séculos atrás!

Mas podemos encontrar alguma fascinação mundial pela androginia em geral, e pelo homem feminino em particular. Historicamente, temos a atracção da Europa do século XVIII(?) pelos castratti. Nos últimos anos, Ocidente e Oriente têm tido exemplos deste fascínio, com a indefinição sexual de performers como Prince ou Michael Jackson, ou a agressiva feminilidade de uma Madonna. A criação de David Bowie Ziggy Stardust (muito popular no Japão, no seu tempo) é também um paradigma.

Agora, mesmo que encontremos sinais de apreciação para com o conceito de bishounen, não apenas no Japão mas também pelo mundo fora, tal não explica o porquê deste gosto. Talvez tenha algo a ver com a sede geral pela transgressão, o prazer de quebrar a lei. Seja a lei da gravidade, as regras de trânsito, a barreira do som, o status social. O bishounen pode representar a mistura e a inversão dos sexos, a remixage das regras sociais e relacionais. Algumas pessoas podem não gostar, ou não entender, mas é refrescante, e muito mais seguro que fugir de uma chusma de polícias pela auto-estrada fora!

Autor:Celia

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