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Shenmue

Odiado por uns amado por outros, Shenmue marcou um género. O primeiro jogo F.R.E.E. como a Sega o denominou, Shenmue é um, senão o jogo mais famoso da velhinha Dreamcast e por sinal das melhores peças de software desta consola.
O primeiro Shenmue lançado em finais de 2000 teve um relativo sucesso a nível de vendas, apesar de nunca terem compensado o enorme investimento feito por Yu Suzuki e pela equipa da AM2 neste jogo, pois na altura Shenmue ficou conhecido como uma das mais caras produções de videojogos de sempre. A sequela Shenmue II que continua o trama iniciado pelo primeiro jogo, foi dos últimos jogos lançados para a última consola da Sega, tendo tido apenas honras de lançamento no Japão e na Europa, o que deu origem a um enorme corrida às importações da versão PAL por parte dos americanos, visto que por acordo da Sega com a Microsoft, Shenmue II seria lançado exclusivamente no território americano para a X-Box um anos mais tarde. E infelizmente as vendas estiveram muito abaixo do esperado, o que contribui e muito para a “morte” prematura da saga. Morte talvez não seja a expressão correcta, visto que em breve estará no mercado asiático o Shenmue Online, o novo jogo da série mas oferecendo uma mecânica completamente diferente dos anteriores. O novo capítulo da saga Shenmue é um MMORPG ao nível de World of Warcraft, Final Fantasy XI ou Phantasy Star Online. Shenmue Online tem data prevista de lançamento para finais de 2005 no mercado asiático. Porém não está previsto até à data qualquer lançamento no Ocidente ou mesmo no Japão.

Finda esta pequena explicação da história da saga, cabe agora passar ao jogo propriamente dito. Visto esta ser uma análise dos dois jogos e não apenas de Shenmue I ou II, procurarei fazer uma análise global da série bem como das inovações e principais diferenças (que no fundo não são assim tantas) entre os dois jogos.

A história passa-se nos anos 80. No dia 29 de Novembro, ano de 1986 Ryo Hazuki regressa a casa para se deparar com o horrível espectáculo de ver a sua casa invadida por bandidos, cujo líder assassina o seu pai à sua frente. Lan Di, o líder de uma organização mafiosa veio a casa da familía Hazuki para obter um misterioso espelho, o Espelho Dragão. Mas que espelho é esse? Qual o motivo que levou Lan Di a assassinar o pai de Ryo? Com toda a raiva e pensamentos de ódio e vingança, Ryo parte numa jornada para descobrir tudo o que pode acerca deste personagem e vingar a morte do Pai.

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Posto isto, é assim que começa a fabulosa aventura de Shenmue. Shenmue é um misto de aventura com pancadaria e alguns pozinhos de RPG. O jogo centra-se em três modos distintos:

O principal, Exploração – em que procuramos pistas, objectos e personagens que nos possam ser úteis para desvendarmos as mais variadas tramas da história. Muito diálogo, muitos sítios para visitar, muitas pessoas para conhecer e muitas coisas para examinar.

QTES – Uma agradável surpresa deste jogo. Os QTES consistem em certas ocasiões (nomeadamente perseguições mas também em algumas cenas de combate) em que temos de pressionar os botões correctos rapidamente para conseguirmos atingir um determinado objectivo. Muito divertido, muito bem animado e extremamente bem feito. Quem se lembre de Dragon Lair fica com uma ideia mais clara acerca dos QTEs.

Finalmente, modo Combate / Free Battle – Shenmue, como já aqui foi dito tem como pai Yu Suzuki e a equipa da AM2. Pois bem, qual o jogo mais conhecido desta famosa equipa da Sega? A saga Virtua Fighter. Todo o modo de combate deste épico da AM2 tem por base o clássico jogo de luta a 3D. A mecânica de combate de Shenmue é porém algo diferente de VF, para além de Shenmue I e II diferirem bastante um do outro neste modo de jogo. Mais à frente neste texto explicarei melhor as diferenças. Continuando, Shenmue está cheio de cenas de luta e elas são naturalmente fulcrais para progredir na história. Escusado será dizer que temos dezenas de técnicas à nossa disposição. Inicialmente Ryo não sendo propriamente um amador, não domina um arsenal de técnicas particularmente poderosas, que possam causar muitos danos aos seus adversários. Mas à medida que vamos progredindo na história, certas personagens vão nos ensinando novos movimentos, alguns de complexidade bem acima da média. Podemos igualmente dando uso ao dinheiro que vamos amealhando ao longo do jogo, comprar scrolls de técnicas, aprendendo-as instantaneamente. Sim, porque as técnicas ensinadas pelos respectivos mestres só podem ser aprendidas se forem realizadas com precisão e aprovadas pelo respectivo personagem que nos dá instrução.

Os gráficos do Shenmue são fantásticos, puxando ao limite as capacidades da 128-bit da Sega. Todos os cenários são enormes, todos a 3D e super detalhados. O desenho dos personagens está também fabuloso. Elevados pormenores, espectacular animação facial bem como uma incrível atenção a todos os detalhes. As texturas e os efeitos de luz são um mimo, sofrendo uma particular melhoria com a sequela se comparado com o jogo original. Os efeitos de sombra e de luz(em particular os raios solares) merecem uma referência especial porque estão verdadeiramente incríveis.
A animação não fica atrás da fabulosa qualidade gráfica desta série. Destaco as cenas de combate e QTEs, em que podemos verificar a alta qualidade e imaginar os milhares, senão mesmo milhões de yens que Yu Suzuki investiu para dar vida a esta obra. Em particular, a animação das cenas de combate de Shenmue II estão num patamar superior à do seu antecessor, visto que agora a animação é mais rápida e fluída. No entanto como não há bela sem senão, devido à melhoria gráfica e à particular atenção ao detalhe da sequela em certas situações deparamo-nos com algum slowdown (no modo de exploração). Nada que tire o gozo ao jogo, mas de qualquer maneira é de assinalar esta pequena falha.

Ao nível sonoro, Shenmue tem o prazer de figurar na lista de um dos jogos com melhores bandas sonoras de sempre. Sendo uma aventura épica, não é de estranhar que foi dado uma particular atenção à escolha das músicas que acompanhariam a acção de todo o jogo. Todas de uma excelente qualidade, adequando-se perfeitamente a cada situação. Os efeitos sonoros estão também muito bons, sem nada a assinalar. Relativamente às vozes, a versão PAL/NTSC de Shenmue I contém a versão dobrada em inglês, que apesar de não estar assim tão má, está longe de ser brilhante. Na sequela, a Sega decidiu manter as vozes do Japonês original e fez francamente bem. Já é conhecida a fama que os senhores do país do sol nascente têm em dar vida a personagens animadas. Em Shenmue II essa fama não ficou por mãos alheias.

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O que distingue verdadeiramente Shenmue de outros jogos de aventura, é a sua variedade e dinâmica de jogabilidade. Vejamos temos três modos de jogo: Exploração, QTE e Combate. Dentro do modo de Exploração, podemos fazer dezenas de actividades ligadas ou não ao esquema principal. Explorar(óbvio) as dezenas de localizações do jogo, falar com as centenas de personagens que vamos encontrando ao longo da aventura, arranjar um part-time(muito útil para ganhar dinheiro em Shenmue II, visto que no 1º título temos uma mesada), jogar a clássicos arcade da Sega(versões fiéis de Hang-On, Space Harrier entre outros), jogar aos dardos, coleccionar cartas, bonecos e brindes, tratar de pequenos animais e vê-los crescer, fazer apostas, jogar ao braço de ferro, participar em corridas, em lutas ilegais, etc, etc…
No modo de luta podemos igualmente treinar sozinhos (em Shenmue I) ou com outras personagens (em Shenmue II), bem como participar em algumas lutas ilegais para amealhar algum dinheiro. Como já devem ter percebido, Shenmue é um mundo. Sim, é bastante complicado encontramos outro jogo com um gameplay tão rico.

As duas aventuras oferecem-nos uma grande quantidade de horas de jogo, por isso preparem-se para muitas e muitas horas perdidas a jogar este mimo. E devido á enorme quantidade de extras e de mini-jogos presentes nesta aventura, vão vos deixar ocupados durante muito e muito tempo. Extras perguntam vocês? Em Shenmue I, a Sega ofereceu um 4ºCD com o nome de Shenmue passport. No Shenmue passport podemos ouvir algumas das fabulosas músicas que ouvimos ao longo da nossa aventura, ver informações sobre os mais diversos personagens, ver filmes de promoção da obra da AM, bem como recordar algum dos momentos fulcrais de jogo da primeira aventura. Para além do mais podemos aceder à pagina oficial na Internet.
Em Shenmue II, a Sega procurou dar a possibilidade aos jogadores de poder jogar os tais mini-jogos que me referia anteriormente a qualquer altura, bem como a possibilitar de repetir alguns combates 1on1 da série. E à medida que vamos vencendo combates, o nível de dificuldade do seguinte confronto vai aumentando progressivamente, chegando mesmo a um patamar que só os mestres terão possibilidades de levar por vencido tais combates.

Mas quais as diferenças fundamentais entre os dois jogos da saga? A equipa da AM2 procurou dar resposta a algumas críticas bem fundamentadas feitas ao primeiro jogo. Mesmo sendo difícil de agradar a gregos e a troianos, Shenmue II foca muito mais na acção que o seu antecessor e deixa a exploração para segundo plano. O que significa mais lutas e mais qtes, muito embora a AM2 tenha acabado com a opção de treino singular. Talvez seja natural como os combates são agora em maior número (podemos igualmente lutar facultivamente em algumas apostas de rua, lá mais para o meio da aventura) a opção de treino tenha perdido alguma da sua importância.
Em Shenmue II temos igualmente mais jogo, mais coisas para fazer, mais variedade. Desde mais jogos de arcada clássicos bem como mais mini-jogos que temos de completar para progredir em certos pontos da aventura.

E quanto a melhorias? Os gráficos sofreram ligeiras melhorias, mas fundamentalmente estão fiéis ao primeiro jogo. Os cenários são agora bem maiores, o que foi uma agradável surpresa muito embora isso tenha tido alguns custos, pois sofremos alguma slowdown em certas localizações no modo Exploração.
O som… Tudo no sítio, muito embora falte em alguns aspectos a magia da música do original. A banda sonora de Shenmue II embora muito boa, não é fabulosa como a do 1º jogo.

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O principal aspecto que foi drasticamente melhorado na sequela foi sem dúvida a jogabilidade nos combates. Em Shenmue I por vezes dava-nos a sensação que estavamos a lutar contra robôs. Faltava fluidez, rapidez às cenas de pancadaria. Em Shenmue II não só a fluidez foi drasticamente melhorado mas a tridimensionalidade dos combates ganha uma nova dimensão, pois agora conseguimos com muito maior facilidade rodear o nosso adversário numa volta de 180º e apanhá-lo desprevenido. Igualmente o pouco slowdown nas lutas do primeiro jogo foi totalmente eliminado nesta versão. A própria animação muito devido ao drástico melhoramento da mecânica de combate, ficou ainda melhor.

Em jeito de conclusão de tudo o escrevi sobre a saga, Shenmue é uma verdadeira obra prima. Um grande argumento, uma alta e dinâmica jogabilidade, uma incrível variedade de jogo, acompanhada com gráficos do melhor que a Dreamcast tem para oferecer. bem como uma fabulosa banda sonora. Talvez o ritmo algo-lento que tanto Shenmue I como Shenmue II têm em diversas fases da aventura, possa afastar e aborrecer muitos jogadores. Esta é mesmo a principal razões pela qual as críticas nunca foram unânimes em relação a este jogo. Mas por muito divergente que possa ser a opinião de uns face a outros, penso que a dúvida só se poderá colocar neste ponto: classificar Shenmue como um bom jogo ou um jogo excelente.

A minha opinião pessoal já a sabem, não a vou repetir. Tendo uma Dreamcast é quase um pecado não exprimentarem Shenmue. Sendo vocês possuidores de uma X-Box ficam bastante bem servidos com Shenmue II, porque a Sega lembrou-se (e bem) de incluir na versão da consola norte-americana um vídeo para explicar toda a trama passada no primeiro capítulo. Pelo que sei, as duas versões estão bastante semelhantes, tendo muito poucas diferenças, sendo mesmo estas diferenças muito pouco significativas.
Resumindo e concluindo, a saga Shenmue é imperdível, um grande, grande jogo. Não sendo um jogo perfeito(existe algum?) tem uma qualidade argumental e uma jogabilidade invulgar que o fazem um título a não perder. Esperemos que ainda haja espaço no mercado para Shenmue III ver um dia a luz do dia!
Autor:Paulo Ceriz dos Santos

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