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Misora Hibari

No dia da Festa do Japão (24 de Junho) organizada pela Embaixada do Japão em Portugal celebra-se também o desaparecimento da maior expressão feminina do Enka (estilo musical japonês), Misora Hibari (1937–1989).

Começou a cantar desde muito cedo e inicia a sua atividade como artista na mesma altura que o seu pai ingressa no Exército. Ela cantava sempre que ia visitar o pai ao quartel e era uma forma de o confortar e dar-lhe ânimo na vida militar. Em 1945, decide criar uma banda a que lhe dá o nome de Misora, e com a qual passou a cantar em teatros da região. O seu nome artístico, naquela época, era Misora Kazue.

Um ano mais tarde, participa no concurso da estação NHK para jovens cantores, mas, por ter assumido comportamento de adulta apesar de ser criança, foi rejeitada e eliminada. Em 1949, actuou pela primeira vez no cinema e gravou seu primeiro disco.

Em 1950, vai até ao Havaí onde realiza vários espetáculos e que foram um grande sucesso. Em 1952, a canção Ringo Oiwake, um tema da radionovela “A menina do pomar de macieiras”, foi um enorme sucesso com mais de 700 mil discos vendidos. O enorme sucesso deu-lhe direito à sua primeira participação na quinta edição do Kohaku Utagassen (uma competição entre equipas masculina e feminina de cantores realizada tradicionalmente no dia 31 de dezembro pela NHK).

Em 1957, durante um concerto em Asakusa, na capital japonesa, sofre um atentado por um fã, que lhe atirou ácido sulfúrico, no entanto o ferimento foi leve, e a recuperação foi rápida. Em 1960, conquistou o prémio Nippon Record Taisho (The Japan Record Awards), na categoria canção, com Aishu Hatoba. Em 1965, ganhou o Grand Prix do sétimo Nippon Record Taisho, com a canção Yawara. Em 1969, realizou com sucesso uma tourneé pelo Brasil.

A partir dos anos 70, a sua carreira musical não teve grandes sucessos, mas o seu repertório não se limitou apenas ao enka (canção popular caracterizada pela melancolia) ou kayokyoku (canção popular). Misora dominava também outros estilos musicais como eram os casos de: mambo, pop, jazz e até ópera, dando-lhe assim um estatuto de estrela que a “obrigava” a estar de forma intensa em programas de televisão e concertos, e dando-lhe novamente o reconhecimento por profissionais de cada área.

Foi uma cantora que sempre teve visão das tendências da época e tomou a dianteira, o que foi o segredo do seu sucesso. Foi uma pessoa de múltiplas habilidades, como atriz de cinema, atriz de teatro, mestre em dança tradicional japonesa e tocava shamisen (instrumento de corda) e hogaku (música tradicional japonesa). Até os seus 52 anos, mantendo uma inabalável popularidade, foi agraciada pelo governo japonês com o prémio de Honra ao Mérito ao Cidadão.

Durante os anos 70, as apresentações realizadas no interior do país eram controladas pela yakuza, a máfia japonesa, que agia como uma espécie de segurança dos artistas. Em 1973, um incidente com seu irmão trouxe à tona o envolvimento do grupo Yamaguchi com a família da cantora, o que levou a que as relações entre ela e a NHK terminassem, impedindo-a de participar do Kohaku Utagassen desse ano. Misora esteve ausente até 1979.

Em 1987, foi internada no hospital com hepatite crónica e necrose da cabeça do fêmur, mas, no ano seguinte, atuou durante 2h30 para uma audiência de mais de 50 mil pessoas no Show de Fênix, na inauguração do estádio Tokyo Dome. Depois deste concerto memorável nunca mais recuperou a saúde, vindo a falecer em 24 de junho de 1989, vítima de pneumonia intersticial.

O total de temas gravados por Misora Hibari (美空ひばり) em disco por foi de 1.160 canções. E o total de discos vendidos chegou ao espantoso número de 40 milhões de cópias. Para terem uma noção deste número era o mesmo que dizermos que cada 1 em 3 japoneses tivessem comprado o disco. Misora ainda participou em 165 filmes e mais de 230 apresentações em palco.

Por esses números, pode-se ter noção de que ela foi uma verdadeira superstar. A rainha das canções, que, desde a época da reconstrução do pós-guerra, veio sempre encorajando e confortando o coração dos japoneses, é realmente, como diz o próprio nome, uma cotovia (Hibari) que continua eternamente a cantar pelo belo céu (Misora).

Escrito por: Fernando Ferreira

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